Angelica Pina: Histórias para Sorrir, Suspirar e Refletir 

02/20/2023

Acho que nossa principal barreira é tornar a ficção cristã mais conhecida, então seria unindo forças nesse "trabalho de formiguinha".

1. Fale-nos sobre sua experiência como escritora.

Os livros fazem parte da minha vida desde criança, tive o privilégio de ter pais leitores e de estudar em um colégio que também incentivava bastante a leitura. E, sim, Português sempre foi minha matéria favorita - e a que eu sempre tive mais facilidade também.

Os livros serviam como uma espécie de "fuga da realidade"


Pensei em cursar Letras, mas acabei me formando em Comunicação Social, pois no fundo tinha a expectativa de trabalhar com algo que envolvesse a escrita. Em 2012/2013, eu estava vivendo um turbilhão na vida pessoal, e os livros serviam como uma espécie de "fuga da realidade", então comecei a escrever resenhas para um blog literário e algumas pessoas me incentivaram a criar histórias. Foi o empurrãozinho que faltava, e em 2014 eu publiquei meu primeiro romance. Um mês depois eu já estava participando de uma Bienal do Livro como autora e desde então nunca mais parei.


Foi em 2016 que participei da minha primeira antologia de ficção cristã, e então minha jornada como escritora ganhou um novo rumo e um novo propósito: escrever histórias que abençoem pessoas e glorifiquem ao Senhor.


2. Quais autores influenciam seu pensamento e sua escrita?

Vale citar o apóstolo Paulo? rs Amo tudo que ele escreveu! C. S. Lewis é um autor que considero genial, embora eu ainda não tenha lido todas as suas obras (mas pretendo). Na ficção, impossível não citar Francine Rivers e Janette Oke, que têm toda minha admiração. Sophie Kinsella foi a autora que me fez amar chick-lit, e algumas pessoas já notaram influência dela na minha escrita.


Entre os autores nacionais, é complicado citar, porque aí a amizade fala alto... hahaha... Mas Carla Montebeler, Priscila Camargo e Hezaro Viana são autores que conheço de perto e compartilhamos muitos pensamentos.


3. Fazendo uma retrospectiva da ficção cristã nacional, como você vê seu desenvolvimento?

Quando comecei a escrever, 10 anos atrás, eu não conhecia ficção cristã. Inclusive, por isso, comecei escrevendo romances seculares, pois eu não acreditava que alguém leria minhas histórias se elas tivessem personagens com a minha fé e os meus princípios. Escrevi aquilo que eu achava que as pessoas gostariam de ler.


Demorou um bom tempo para eu conhecer outros autores cristãos e perceber que havia uma demanda por livros que não apenas entretém, mas também abençoam, mas esses estavam, em sua maioria,
apenas no Wattpad.

Ainda enfrentamos resistência por parte de alguns que acreditam que cristãos só devem ler a Bíblia ou livros de não ficção.


Hoje, graças a Deus, vejo um constante crescimento no número de autores nacionais na ficção cristã e cada dia mais leitores também conhecendo essa categoria de livros, embora ainda enfrentemos resistência por parte de alguns que acreditam que cristãos só devem ler a Bíblia ou livros de não ficção, como os de Teologia, devocionais e vida cristã.


4. O que ainda precisamos melhorar?

Quando entramos em grandes livrarias, os lugares de destaque são para os livros que estão fazendo sucesso e têm se tornado famosos nas redes sociais, ou seja, muitos autores estrangeiros e muita literatura que propaga os valores do mundo, inclusive grande parte com conteúdo inadequado para menores de idade.

Precisamos ocupar esse espaço [destaque em livrarias], especialmente porque vivemos em um país em que a maioria se denomina cristã. 


Se procurarmos por literatura com viés religioso, encontraremos bem poucos que são cristãos, ficção quase nenhum. Precisamos conseguir ocupar esse espaço, especialmente porque vivemos em um país
em que a maioria se denomina cristã.


5. Você levantou uma questão muito relevante sobre o número de cristãos no Brasil e o contraste com o tipo de literatura que é consumido. Pode nos falar mais sobre isso?


Há estimativas de que 50% dos brasileiros são católicos e 30% evangélicos, ou seja, 80% do país é formado por cristãos - não vamos entrar no mérito de avaliar se são mesmo seguidores de Cristo ou
apenas estatística, só Deus sabe, né?! rs

Quando olhamos para as listas de livros mais vendidos no Brasil, o topo sempre é composto por romances com cenas eróticas, autoajuda e aquelas "fórmulas" de como enriquecer, então a conta não fecha.


O fato é que esse número me intriga, pois quando olhamos para as listas de livros mais vendidos no Brasil, o topo sempre é composto por romances com cenas eróticas, autoajuda e aquelas "fórmulas" de
como enriquecer, então a conta não fecha. Ou seja, os cristãos não estão lendo ou estão consumindo literatura inadequada, com princípios contrários à fé que professamos.


Acredito que há uma "guerra cultural" acontecendo, com muita gente empenhada em tornar normal aquilo que vai totalmente contra a Palavra de Deus. Acho que precisamos nos posicionar, filtrar o que estamos lendo e assistindo e entender de uma vez por todas que aquilo que consumimos ocupa nossas mentes e transborda de nós por meio do que falamos e dos nossos comportamentos.


6. Como os leitores e escritores de ficção cristã podem se ajudar mais?

Acho que nossa principal barreira é tornar a ficção cristã mais conhecida, então seria unindo forças nesse "trabalho de formiguinha". O maior desgaste dos autores é ter que dedicar mais tempo na divulgação dos livros do que de fato escrevendo.

Para os escritores, acho importante que todos entendam que não somos concorrentes.


Para os escritores, acho importante que todos entendam que não somos concorrentes, não existe leitor de um livro só, então se alguém lê um livro meu e gosta do tipo de literatura que produzo, naturalmente
vai buscar outros do mesmo tipo - e eu sozinha não dou conta de suprir essa demanda!

Já os leitores podem ajudar recomendando os livros a outras pessoas.


Já os leitores podem ajudar recomendando os livros a outras pessoas. Vários já fazem um trabalho lindo compartilhando resenhas nas redes sociais, deixando suas avaliações na Amazon e por aí vai - o que
seria de nós sem esse apoio? Mas acredito que seria interessante tentar levar isso para fora da internet também, por exemplo, criando clubes de leitura coletiva nas igrejas e abrindo espaço para autores participarem de eventos.


7. Quais são seus planos como escritora (o que puder compartilhar, claro).

Tenho planos no estilo "sonho de princesa", como não precisar trabalhar com outras coisas e poder me dedicar somente à escrita, lançando pelo menos dois livros por ano... hahaha...

Mas falando de planos mais realistas, pretendo continuar seguindo meu próprio estilo, no qual tenho me sentido a cada dia mais confortável, sem me importar em escrever histórias "engessadas" por técnicas mirabolantes.

Pretendo continuar entregando aos leitores histórias que façam sorrir, suspirar e refletir sobre o amor de Deus por nós.


Pretendo continuar entregando aos leitores histórias que façam sorrir, suspirar e refletir sobre o amor de Deus por nós e como Ele é poderoso para transformar corações.


8. Como Deus permeia suas histórias?

Eu O vejo como o primeiro escritor que já existiu, aquele que escreveu as leis para o Seu povo numa tábua com Seu próprio dedo, que escolheu deixar Sua vontade registrada em um conjunto de livros (a Bíblia), que escreveu os dias de cada ser humano antes mesmo do nascimento (Salmo 139:16) e aquele que possui uma vasta biblioteca (Apocalipse 20:11,12). Por causa disso, não me vejo mais escrevendo livros em que Ele não seja o foco, em que o relacionamento dos personagens com Ele não seja o mais importante.

O que mais amo na ficção é o poder que ela tem de gerar identificação em quem lê.


O que mais amo na ficção é o poder que ela tem de gerar identificação em quem lê, então eu me proponho a criar personagens que vão passar por dificuldades, terão dúvidas e enfrentarão dilemas que nós também passamos, e a solução sempre será voltar-se para Jesus, encontrar Seu amor, receber Seu perdão - e aprender a perdoar também.


9. Deixe um conselho para novos escritores.

Escreva aquilo que gostaria de ler e tenha em mente que é impossível agradar todo mundo. O único livro 100% perfeito que já  foi escrito, a Bíblia, então lembre-se sempre que, por melhor que sua história seja,
ela será imperfeita.

Se você entende que foi o Senhor quem nos deu o dom da escrita e que essa é uma forma de sermos Suas testemunhas até os confins da terra, deixe de lado a vaidade, o desejo de fama e reconhecimento, e dê toda glória a Ele.


Por outro lado, faça sua parte, estudando ortografia, gramática e técnicas de escrita. E leia muitos livros, pois não existe escritor que não seja leitor - até existe, mas dá pra perceber muito facilmente quando quem escreveu um livro não tem o costume de ler, viu?!

E leia muitos livros, pois não existe escritor que não seja leitor - até existe, mas dá pra perceber muito facilmente quando quem escreveu um livro não tem o costume de ler, viu?!


Lembre-se de que o mesmo Deus que abre portas que ninguém pode fechar também fecha portas que ninguém pode abrir (Apocalipse 3), então não se perca tentando forçar portas que não são para você. E não desista diante das dificuldades, elas são muitas, às vezes parecem grandes e assustadoras demais, mas temos um Deus ainda maior!